O Pensamento Único em BPM

Por Luis Bender, ProcessMind

Freqüentemente tenho visto manifestações de profissionais buscando o que poderia chamar de “o pensamento único em BPM”. São pessoas procurando identificar qual é “A” metodologia, qual é “O” autor, qual é “A” certificação profissional, qual é “A” associação profissional de BPM que serviriam de referência para sua vida profissional.

Uma das características que contribuem para que BPM seja uma disciplina de gestão e tecnologia tão importante no contexto atual de negócios é exatamente sua diversidade. E essa diversidade gera inovação. Hoje existe um grande número de autores, consultores, métodos, notações e ferramentas diferentes, o que só contribui para a evolução de BPM e sua disseminação. Considero um equívoco a busca pelo pensamento único. Um grande equívoco. Ele não existe hoje em BPM e muito provavelmente nunca existirá. A própria busca em si já contribui para o empobrecimento das idéias.

Em outros cenários já foi observado esse movimento que, após alguns anos, começou a ser questionado e cedeu espaço para novas idéias e evoluiu. Um exemplo é na área de engenharia de software. Até uma década atrás, seria considerado amador quem não seguisse o modelo definido pelo Carnegie Mellon Software Engineering Institute (SEI). Após anos e anos de projetos de software mal sucedidos, uma nova linha de pensamento foi se consolidando com muitas inovações e uma nova dinâmica foi ganhando força nos processos de desenvolvimento de software. Os denominados métodos ágeis (Scrum, XP, etc) são hoje uma realidade em diversas empresas e responsáveis até certo ponto pela volta da confiança na própria atividade de desenvolver software.

Enfim, acredito que todos temos a ganhar com diversidade e inovação constante em BPM.

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11 Respostas to “O Pensamento Único em BPM”

  1. Ânderson Says:

    Bender, concordo plenamente com você. E arriscaria ir ainda mais longe: não apenas não existe uma fonte de “conhecimento soberano” como também todas as fontes que existem são relativas e exigem cuidadosa adaptação ao serem implementadas, de acordo com seus respectivos cenários. Ou seja, o velho “cada caso, um caso”. Acreditar que esse tipo de conhecimento pode ser generalizado, industrializado e vendido em latas é um erro grotesco, porém corriqueiro.

    • Luis Bender Says:

      Ânderson, essa tentativa de “enlatar” BPM, como você coloca, e outras áreas do conhecimento realmente ocorre com freqüência. Tem um apelo que a primeira vista parece interessante para os que estão começando ou patinando em BPM, que se forem seduzidos pela idéia acabam ficando à mercê de oportunistas vendendo “a solução para todos os problemas”: compre o “livro X” e saiba tudo sobre BPM, filie-se à “associação Y” ou faça a “certificação Z” e seja um profissional reconhecido pelo mercado…

  2. Ânderson Says:

    Exato, Bender. Já enfrento esse tipo de problema com a questão de “gerenciamento de projetos” há longo tempo. As pessoas esperam que você entregue um framework ou um PMO impecável para a gestão de seus projetos, que seja fundamentado pelas melhores práticas de projetos de diversas naturezas, mas ao mesmo tempo se encaixe perfeitamente no gerenciamento dos projetos de suas organizações, por mais díspares que esses sejam. Mais recentemente também tenho enfrentado o mesmo “problema” com a implantação de ITIL, BPM e outros, exatamente da mesma maneira.

    • Luis Bender Says:

      Pois é, Ânderson, você coloca dois bons exemplos de estabelecimento de “pensamento único” que na prática acabam por desestimular a inovação. Pessoalmente, a grande maioria dos PMPs “certificados” que conheço não tem a sensibilidade necessária para gerenciar projetos que envolvam criatividade ou algum tipo de desenvolvimento de conhecimento. Ou seja, além de inibir o desenvolvimento de uma cultura de gestão de projetos alinhada à cultura e necessidades de uma organização, o “pensamento único” nesse caso gera mais problemas do que resultados. E custa caro, bem caro, pode ter certeza.

  3. Marcus Cavalcanti Says:

    Infelizmente a maioria das pessoas tendem sempre a procurar uma receita de bolo para solução dos problemas é assim em tudo, não só em BPM.

    Acredito que custe a pensar, que dependendo do nosso problema e do nosso conhecimento, BPM tem inúmera aplicabilidades, inúmeros benefícios. Assim como seguir uma receita de bolo, ou um pensamento único, como você mesmo citou, pode levar um projeto a tomar um rumo que não deveria.

    Como sou da área de TI, estou cansado de ver inúmeros profissionais tratando BPM como algo único, como software, não me canso de ouvir “mas eu faço isso em Java… eu faço isso em não sei o que..”, o grande problema disso é a falta de visão, ou então o que é pior: que é a ignorância para falar de algo que não se tem conhecimento.

    Mas em contrapartida, acho bem interessante as pessoas envolvidas com BPM e processos em geral, procurarem chegar a um consenso sobre determinados pontos, procurarem chegar a um entendimento sobre o que é BPM, como pode vir ajudar, como aplicar e etc.. isso faz com que nós, profissionais que trabalham com BPM, possamos ter uma visão mais unificada sobre alguns aspectos. Acredito que pela diversidade do que é BPM (que é difícil até mesmo definir conceitualmente) epor ser algo mais abstrato, do que concreto, que será uma utopia chegarmos ao pensamento único.

    • Luis Bender Says:

      Marcus, temo que na tentativa de chegar a esse “consenso”, como você coloca, caiemos nos mesmos problemas que apontei sobre o “pensamento único”. Mesmo no caso de notações, por exemplo, que parece menos polêmico, tentar reduzir tudo a BPMN me parece um equívoco que nos tira a possibilidade de enxergar um processo através de perspectivas diferentes. Essas diferentes perspectivas nos permitem identificar soluções de design mais criativas e inovadoras que as possibilitadas por uma notação somente. Veja por exemplo 12 Different Ways to Model Business Processes – não concordo com todas as colocações do autor, mas com certeza ele fez um esforço importante.

      • Marcus Cavalcanti Says:

        Luiz, concordo. Mas quando falo sobre o pensamento único, não digo no sentido de todos pensarem da mesma maneira, aquela visão reta, e sim de alinharmos alguns entendimentos, ouvirmos outras opiniões, outros aspectos e experiências, até mesmo pq o conceito de BPM é algo recente e que as pessoas no geral tem pouca vivência, por isso acho essa troca de conhecimento e alinhamento sobre algums aspectos válida.

        Na verdade é mais uma troca de conhecimento e experiências do que um pensamento único e isso está diretamente ligado em entender o papel do BPM de acordo as necessidades de um negócio específico.

        Quanto a tentar reduzir tudo a BPMN, eu assino embaixo a respeito do que você falou. Recentemente inclusive particpei de uma discussão (no bom sentido da palavra) em uma lista de discussão sobre BPM. É complicado tentar reduzir tudo a BPMN, até mesmo pq na prática é impossível usar a notação para exemplificar alguns cenários reais, nesse ponto acho que entra outra questão, que é uma visão mais “old school” de pessoas da área de negócio/processos em relação a pessoas da área de TI. Uma pessoa que consiga reunir características e conhecimentos dos dois lados, tende a ter uma visão melhor sobre a utilização de BPMN, por exemplo e sobre o uso e as aplicabilidades de um projeto BPM.

  4. Ronnie Peterson Says:

    Concordo com atudo que foi falado acima, é óbvio que adotar o pensamento único é limitar a capacidade dos profissionais ou de uma ferramenta.

    Não sou da área de TI, mas trabalho com processos, como Analista da Qualidade, e estamos começandoa adotar o BPM, e como foi falado acima, cada caso é um caso, e estamos tentando ao pouco pegar as boa práticas encontadas para que possa servir de norte para a gente, mas nunca como o único caminho, assim a gente pode extrair o máximo da equipe e dos envolvidos.

    Um exemplo feliz que passei recentemente foi a adoção do SCRUM em nossa área, onde apesar de ser uma ferramenta mais voltada para o desenvolvimento de softwares, conseguimos adaptá-la a nossa realidade. Pois tanto ela quanto o PMBOK usam um método bem antigo o famoso e velho PDCA, apenas são explicados de formas ou nomes diferentes.

    Por fim, o melhor é manter a mente aberta para tudo que possa ser útil, e cabe apenas a você a filtar o que realmente agrega valor.

    • Luis Bender Says:

      Ronnie,

      Muito boa a iniciativa de vocês. Até alguns anos atrás, não seguir fielmente os princípios do PMI significava amadorismo em gestão de projetos. Hoje, métodos como SCRUM e outros ágeis são muito adotados e respeitados até pelos mais radicais. De certa maneira, a disciplina de gestão de projetos passou por uma fase onde todos buscavam o pensamento único, porém a prática no mundo real mostrou que era necessária inovação e as cabeças foram se abrindo. Ainda há um resquício do pensamento único nesse meio, mas está evoluindo.

  5. Olavo Ricardo Says:

    Amigos,
    Estou em total de acordo com a questão da inovação e dos problemas e riscos que um modelo rígido tem. Realmente é um freio, pois as inovações parecem tirar a estabilidade e o poder de quem os domina. Mas peço atenção e cuidado a todos, pois uma metodologia ela tem também o seu valor, mesmo que por um período de tempo. Um sistema que guarda coerência entre si e não se caracterizando como uma colcha de retalhos. Aplicar um conjunto de técnicas apenas, pode dar resultados ilusórios e de curto prazo. Realmente existem uma diversidade de casos que necessitam tratamentos diferenciados e isso ocorre em todos os campos do saber. Precisamos estar abertos sim para analisar e experimentar adaptações, mas isso não significa que perderemos a coerência metodológica.
    O problema maior está na rigidez, e na perda do poder e não necessariamente num método.
    A Epistemologia prega que uma teoria deixa de valer, quando não consegue responder as demandas e questionamentos que lhe são apresentados e isso dá espaço a novas abordagens e teorias.
    Precisamos inovar sim, mas é preciso haver amarrações e coerências intrínsecas entre seus vários pontos de abordagem para que não transformar tudo em uma reunião pura de técnicas isoladas entre si.
    As teorias e métodos precisam ser fundamentados como um SOA, aberto para “plugar-se” em outros sistemas para dar conta das adversidades, mas sem perder sua coerência interna que é o que dá sustentabilidade e fechamento a todo o processo metodológico.
    Amigos, minha pretensão é apenas a de provocar as nossas mentes para darmos saltos cada vez maiores rumo a inovação.
    Um abraço a todos

  6. Alinie Ferretto Says:

    Pessoal, realmente concordo que BPM não é uma forma de bolo, até porque como cada negócio é único, não tem como falar em gerenciamento de negócios como uma receita de bolo. No entanto, acredito que em todas as organizações existem processos e procedimentos comuns que podem ser tratados de forma padrão, agilizando o processo de gerenciamento. Realmente é interessante que os profissionais de BPM falem uma mesma “linguagem”, chegando a consensar sobre alguns pontos que podem ser considerados padrões e ainda abordar sobre situações que não possam ser consideradas como padrão a fim de expandir o conhecimento. No entanto, essa padronização não pode fechar as portas para a inovação, até porque, como foi dito, BPM não é apenas um software ou uma solução, é inovação, gestão e tecnologia aplicada aos interesses do negócio, que nunca deve parar de inovar.
    Inté!


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